Por Verônica de Oliveira Reis
Quando pensamos em Arte, invariavelmente somos remetidos a imagens de museus com suas paredes, salões e corredores repletos de obras dos mais diferentes meios, envolvidas numa aura de mistério acessível apenas para iniciados. Esses viriam na figura de intelectuais que ponderam sobre movimentos artísticos com datas e nomes que são difíceis de guardar. Pode ser que nos sintamos ignorantes quando estamos diante da Arte, especialmente da qual não conseguimos imediatamente discernir do que se trata
De fato, quando a história da arte ocidental é instituída no Renascimento, passamos por um adestramento da nossa percepção sobre o que é Arte e de certa forma passamos a conectá-la ao virtuosismo. Assim, posicionamentos tais quais “como vou fazer arteterapia se eu nem sei desenhar?” encontram eco na cultura que prega o domínio da técnica e o ‘dom’.
Antes de mais nada, a arte pode ser um instrumento e, como tanto, tem uma função. No contexto terapêutico, ela nos ajuda a externar aquilo que gostaríamos de fazer com nossa mente e nossas emoções, mas não conseguimos muito bem. Nesse sentido, De Botton e Armstrong (2014) elencam sete fragilidades psicológicas que dão sete funções à arte. Elas são: a rememoração, a esperança, o sofrimento, o reequilíbrio, a compreensão de si, o crescimento e a apreciação.
A rememoração estaria presente, por exemplo, quando tiramos fotos para não nos esquecermos de uma viagem especial ou quando escrevemos nas páginas de um diário. A esperança pode estar presente quando contemplamos uma criança que brinca sem conhecer as dores do mundo. O sofrimento encontra na arte sua expressão social e ao mesmo tempo uma reconexão com a nossa consciência da amplidão do tempo e do espaço. O reequilíbrio está quando ouvimos boa música ao fim de um turno estressante de trabalho.
A compreensão de si vem quando, ao nos afetarmos pela arte, percebemos que somos feitos de relações e nem sempre somos transparentes conosco. Isso também pode nos levar ao crescimento, quando ao nos depararmos com o estranho, podemos escolher ter uma percepção acolhedora com nossas defesas para então escolher abandoná-las. Assim, fechamos o ciclo com a apreciação,quando olhamos o mundo por lentes mais atentas e generosas que conferem prazer às coisas simples em nosso meio.
Em suma, uma visão terapêutica da arte faz sentido ao percebermos que ela não é só cânone e teoria, mas também um instrumento que nos permite corrigir, compensar e pôr em perspectiva todo um leque de fragilidades psicológicas. Logo, mesmo que nem toda obra seja Arte, seu uso é meio curativo àqueles que se permitem experimentá-la.
Leitura Complementar:
De Botton, Alain; Armstrong, John. Arte como terapia. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
4 comentários em “A Terapia pela Arte”
Parabéns pelo texto!! Excelente reflexão sobre o poder da arte em nossas vidas.
Muito bom Veronica. Gosto muito da perspectiva deste livro e acho que ele está sendo revisitado nesta pandemia, pela nossa relação com a Arte e com as iniciativas dos Museus nos EUA.
Obrigada, Simone.
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Amei o texto! Parabéns! Bjs