Vários estudos afirmam que a arteterapia reduz a depressão, ajudando pessoas com transtornos do humor a resolver problemas emocionais e liberar sentimentos reprimidos. Mas talvez não seja realmente por isso que fazer arte ajude a alterar o humor. A resposta pode estar literalmente em suas mãos.
Em um post recente, “Onde a depressão pode residir”, Peter Kramer observa que pesquisadores e médicos estão cada vez mais apontando para uma área do cérebro conhecida como córtex frontal.
Na mesma linha, a psicóloga e neurocientista Kelly Lambert propõe que a rede accumbens-estriado-cortical – um sistema no cérebro que conecta movimento, emoção e pensamento – é a fonte subjacente de sintomas associados à depressão.
Embora o córtex pré-frontal esteja ligado à incapacidade de se concentrar (um sintoma associado à depressão), há outras partes do cérebro envolvidas também, de acordo com a pesquisa de Lambert.
Essas áreas são responsáveis por respostas lentas (acumbens), perda percebida de prazer (estriado) e sentimentos negativos (sistema límbico). Essas áreas formam o que Lambert define como o circuito de recompensas impulsionado pelo esforço.
Fundamentação para Arteterapia na ação da depressão
O que me interessa como terapeuta de arte e terapeuta expressivo é a constatação de Lambert de que um “circuito de recompensas orientado pelo esforço” bem engajado nos ajuda a enfrentar efetivamente desafios emocionais, melhorando, assim, os sintomas depressivos. Em termos cerebrais, mover nossas mãos ativa áreas maiores do córtex do que o movimento de outras partes do corpo, como pernas ou músculos das costas. E, o que é mais importante, o que impulsiona esse circuito de recompensas por esforço são atividades físicas que envolvem nossas mãos, principalmente atividades que produzem produtos tangíveis que podemos ver, tocar e desfrutar. Enquanto Lambert menciona tricotar ou cuidar de um jardim como atividades de recompensa impulsionadas pelo esforço, não posso deixar de pensar que essa conexão cérebro-mão também se aplica à arte. “Fazendo coisas”, como desenho, pintura, colagem, tecelagem, modelagem entre outros.
Segundo Ellen Dissanayake diz que a arte evoluiu não apenas por necessidade psicológica, mas também como uma “operação proto- estética”envolvendo o uso das mãos para elaboração, repetição e manipulação, começando na primeira infância. A teoria de Ellen é baseada em como as culturas ao longo da história usaram as artes para conexão, comunicação e poderes curativos. Por outro lado, o século XXI parece ser um tempo que telas de telefone celular, computador e plasma cada vez mais afastam os seres humanos daquelas operações físicas, motivadas pelo esforço e prototéticas – em suma, longe de criar coisas por prazer, recompensa e significado. Lambert afirma, e talvez com razão, que essa tendência contemporânea está minando nosso bem-estar mental e reduzindo uma resistência inata à depressão.
Vamos fazer arteterapia?
Então, “fazer as coisas” oferece uma possível intervenção para a depressão? Parece que pode, pelo menos como parte de um programa, tratar o que nem sempre é aliviado pela farmacologia e pela terapia da fala. Enquanto as artes servem como um meio de auto-expressão e talvez reparação emocional, nós, humanos, sempre voltamos ao prazer de criar coisas com as mãos por algum motivo mais fundamental. A pesquisa de Lambert também traz novas questões para o debate perene sobre conexões entre depressão e artistas. Mas, por enquanto, é empolgante saber que todos nós podemos ter acesso a um circuito interno de recompensas impulsionado pelo esforço para simplesmente afugentar nossa tristeza.
1 comentário em “Depressão pode literalmente estar em suas mãos”
Muito bom.