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Terapia pela Arte

Mediadora

O mediador

Esse artigo é a segunda parte de um trecho da Monografia de Amanda Medeiros submetida ao curso de Licenciatura em Educação Artística do Centro Universitário Metodista Bennett em 2010.

Confira a primeira parte desse artigo.

Em meio a tentativa de tornar os museus e centros-culturais mais atrativos e consequentemente educativos, surge a profissão de “mediador cultural” e pouco a pouco acabamos nos habituamos com a prática desse ofício sempre a nosso dispor nos museus, centros culturais e exposições. Entretanto muito pouco se sabe sobre a formação e a preparação desses mediadores para que realizem tais práticas.

Acerca disso há muitos questionamentos, mas, nenhuma tão norteadora quanto a quem cabe o processo de educação que se dá nesses espaços em que se estabelecem a prática mediada. Estamos falando de uma educação não-formal onde as disciplinas de licenciatura ainda não trazem em suas grades curriculares algo que supra as necessidades de tais práticas.

Defronte as problemáticas inseridas no contexto do processo de mediação que até então cabem aos “mediadores” explorarem os elementos que auxiliam os visitantes na apropriação cultural, envolvendo diferentes linguagens artísticas e vários tópicos como história da arte, o polêmico debate entre arte erudita e arte popular, estética e fruição que também são âmbitos de conhecimento nos quais o mediador não pode deixar de conhecer e apresentar .

Rejane Galvão Coutinho em seu artigo sobre Estratégias de mediação e a abordagem triangular e nos diz que:

“A mediação pode potencializar esse processo de interpretação, seja no momento da ampliação, quando o mediador alimenta o leitor com novas informações, seja na articulação das informações, quando o mediador instiga o leitor com questões que provocam reações.”

(COUTINHO,2009.p.176)

Assim estamos no Brasil lidando com a prática da comunicação mediada diante de uma repaginação de hábitos e culturas nas linguagens contemporâneas. Nesse sentido o mediador passa a fazer muito mais do que intermédio de determinado assunto, mas oferece o desenvolvimento de hábitos, habilidades, gera questionamentos, competências e dúvidas, sem algo pronto, ou seja, respostas previamente ensaiadas para serem ditas com o discurso.

O Mediador diante de sua prática procura ter sempre uma postura transcultural, conhecendo, explorando, respeitando do outro e, por fim, enriquecendo a sua, assim tornando real seu trabalho de mediar o conhecimento entre as obras e o espectador. E entendemos o compromisso de mediar que transcende o ato de ensinar.

Enfim, quem é o mediador e o que ele faz não nos parece tão transparente, por conta disso, ficamos desamparados sem saber a quem enfim cabe a tarefa de mediar e se a mesma deve ser atribuída aos professores, colecionadores, ou até estudiosos.

Para começar a entender a figura do mediador, Ana Mae Barbosa em seu artigo Mediação Cultura e Social publicado no livro Arte/Educação como Mediação Cultural e Social nos traz o seguinte pensamento:

“O prestígio dos departamentos de educação dos museus de arte é muito recente, embora haja uma enorme resistência por parte de curadores, críticos, historiadores e artistas à idéia do museu como instituição educacional, o que os leva a considerar os educadores profissionais de segunda categoria.”

(BARBOSA, 2008, p.14)

Entendemos que ainda não há uma graduação específica para o mediador, porém já existe a clareza que sua figura é importante e necessária. Valéria Peixoto de Alencar (3) nos aponta em sua pesquisa, que temos mediadores oriundos de graduações, das mais diferentes áreas de atuação e a partir disso se concretiza a depreciação desse profissional e constatamos que as universidades ainda não estão preocupadas com a educação não-formal.

Caracterizamos como educação formal aquela está inserida no contexto escolar. Já a idéia de educação não-formal atribuímos aos museus, centros culturais e atividades extracurriculares, que entram no circuito escolar como apenas uma saída da escola, e também muito conhecida como aula-passeio.

O fato é que a prática do mediador já se tornou, com o transcorrer do tempo, indispensável mesmo estando diante das novas mídias e de serviços das mais altas tecnologias. A figura do mediador se tornou, para muitos, requisitada e emblemática, o que torna cada vez mais seu papel incessantemente progressivo e importante para romper com conceitos que até então pouco se questionava.

Miriam Celeste nos chama a atenção com o seguinte:

“Aprendemos a pensar as coisas. Como intérpretes do mundo, construímos interpretantes sobre eles.
O que “decoramos” ou simplesmente copiamos mecanicamente não fica em nós. É um conteúdo momentâneo, por isso conhecimento vazio que no decorrer do tempo é esquecido. Não faz parte da nossa experiência.
Só aprendemos aquilo que, na nossa experiência, se torna significativo para nós.
Nessa perspectiva, ensinar – que etimologicamente significa apontar signos – é possibilitar que o outro construa sentidos, isto é, construa signos internos, assimilando e acomodando o novo em novas possibilidades de compreensão de conceitos, processos e valores.
Mas quem são essas pessoas que ensinam?

O educador, podemos pensar, é aquele que prepara uma refeição, que propõe a vida em grupo, que compartilha o alimento, que celebra o saber. É do entusiasmo do educador que nasce o brilho dos olhos dos aprendizes. Brilho que também reflete o olhar do mestre.”

(CELESTE,1998, p.128).

É desta necessidade de pensar em quem está cumprindo o papel na qual Celeste fala acima, que surge então em 2004 no Rio de Janeiro o REM (Rede de Educadores em Museus) com o objetivo de unificar educadores, profissionais ligados a cultura e ao desenvolvimento das práticas educativas e patrimoniais em museus, centros culturais e aos espaços onde praticamos a educação não-formal, tendo como o foco proporcionar a troca de experiências e facilitar a comunicação entre os membros da rede, mantendo-os sempre atualizados sobre suas reuniões mensais, seminários e suas ações e produções e proporcionando o contato com as diferentes práticas adotadas no Brasil e no mundo; e permitindo a troca e algumas vivências entre os membros que, logo a rede ganhou projeções e se expandiu sobre outros estados do Brasil.

Quanto à formação acadêmica desses profissionais, esta ainda se encontra muito vaga, pois há mediadores atuando provenientes das áreas de história, biologia, pedagogia, educação artística entre outros. Sabe-se que na cidade de São Paulo, onde as pesquisas e as práticas da mediação são intensas, existem cursos de pós-graduação voltados para a área de mediação cultural.

Evidentemente não buscamos aqui apresentar uma definição que indique qual curso ou área que efetivamente deve formar o mediador cultural. E sim apresentar o perfil desse profissional. Na condição básica de mediador do conhecimento. Que precisa ser respeitado.


Referências Bibliográficas:

HÉRNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

BRASIL, Secretaria do Ensino Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais- Artes. Brasília: MEC, 2000.

___ Mediação cultural é social. in: Arte/educação como mediação cultural e social. Ana Mae Barbosa e Rejane Galvão Coutinho, (Orgs.)– São Paulo: Editora UNESP, 2009 p.13-22.

COUTINHO, Rejane. Estratégias de mediação e a abordagem triangular. in: Arte/educação como mediação cultural e social. Ana Mae Barbosa e Rejane Galvão Coutinho, (Orgs.) – São Paulo: Editora UNESP, 2009 p.171-186.

MARTINS, Miriam Celeste.Didática do Ensino da Arte: a língua do mundo; poetizar, fruir e conhecer arte; São Paulo: FTD, 1998.


Tese


ALENCAR, Valéria Peixoto.O Mediador Cultural.2008. São Paulo: Tese/Mestrado. PPGAV/UNESP.


Site


(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11904.htm, último acesso em 27/05/2010)


Notas do Artigo

3 ALENCAR, Valéria Peixoto. O Mediador Cultural. 2008. São Paulo: Tese/Mestrado. PPGAV/UNESP.

1 comentário em “O mediador”

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Amanda Medeiros

Arteterapeuta, licenciada
em Artes Plásticas. Mãe de
dois. Meu propósito é
encorajar as pessoas a
perceberem sua identidade
através da arte. Sou
idealizadora do projeto
Terapia pela Arte, no qual
atuo em prol de uma vida
com mais criatividade e
saúde mental.

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